quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Texto do dia - crônicas.

  Hoje eu trouxe duas crônicas para o Fama and Moda, a primeira é a da Clara Braga, eu vi lá no blog crônica do dia, recomendo a visita e a segunda é do Luís Fernando Veríssimo. Vamos ler, refletir e nos divertir?


Ouvindo o silêncio


  Não sei dizer exatamente como nem quando aconteceu, só sei que de alguma forma chegamos ao ponto onde, como dizia Renato Russo, as pessoas falam demais por não terem nada a dizer. E então começaram a falar tanto, mas tanto mesmo, que as palavras se tornaram pequenas e agora muitas palavras que eram cheias de significado já não são quase nada.
  Além das palavras terem se tornado só palavras, o silêncio se tornou um problema. Nós esquecemos como é que se faz para apreciar esses pequenos momentos onde não temos nada a dizer, mas não porque estamos chateados com quem está ao nosso lado, que é o que a maioria pensa, mas sim porque às vezes queremos só apreciar o momento.
  Pensei muito nisso depois de ir ao cinema assistir ao filme O Artista. Que filme maravilhoso! Ali sim podemos entender o que significa a palavra expressão. Muitas vezes nos expressaríamos muito melhor e com muito mais sinceridade se parássemos de falar um pouquinho e fizéssemos mais. Dizer que sente saudade de alguém é muito pouco perto de ir fazer uma visita a alguém que você já não vê faz tempo. Dizer parabéns para alguma conquista de outra pessoa não é a mesma coisa que comemorar essa conquista junto com a pessoa. E dizer eu te amo não é a mesma coisa de preparar uma surpresa, de dar flores, escrever uma cartinha, ou várias outras coisas que a gente pode fazer para mostrar para alguém que a ama, em vez de só dizer.
  Não vivi a era do cinema mudo, mas já vi alguns filmes, principalmente do Chaplin. Confesso que ir ao cinema para assistir a um filme que foi propositalmente feito em preto e branco, e mudo, em uma era onde tudo explode, tudo faz barulho, todos falam o que sentem sem precisar mostrar que realmente estão sentindo, foi uma experiência muito boa.
  No começo, me senti um pouco estranha, em certos momentos eu conseguia ouvir as pessoas mastigando as pipocas, uma barriga roncou, e deu para acompanhar os trailers que passavam na sala ao lado. Mas o filme te prende de uma maneira incrível e me fez realmente refletir, nem sei se a intenção do filme era mesmo te fazer refletir ou deixar alguma lição, mas essa coisa do silêncio que incomoda tanto ficou em mim por uns dias.
  E ficou também uma lição. Se você não é muito chegado ao silêncio, mas também quer fugir dessa onda de falar sem dizer nada, arrume outra forma de se expressar, vá sapatear, dançar, cantar, qualquer coisa com a qual você se sinta bem. Mas vamos tentar manter em mente que dizer só com palavras é fácil, muitos dizem para os seus maiores inimigos que os amam com uma facilidade imensa. Difícil é falar com os olhos, com o coração, enfim, com o corpo todo.
(Clara Braga)
Fonte: Crônica do Dia 




Como as mulheres dominaram o mundo

Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.
- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho...
Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira.
Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.
- E aí, papai?
- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite", eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "O regime".
- E vocês? Não perceberam nada?
- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior: 
Continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem.
- Aí, veio o golpe mundial?!?
- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente...
- Como era mesmo o nome dele?
- William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo...
- Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue...
- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona...
- Pai, conta mais...
- Bem filho... O resto você já sabe.
Instituíram o Robô "Troca-Pneu" como equipamento obrigatório de todos os carros...
A Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho...
E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...
- TPM???
- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... E quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear...
- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...
- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...
(Luis Fernando Verissímo)


  O primeiro texto é bem interessante e real, uma coisa tão simples como "escutar" o silêncio, acaba passando despercebido por nós das cidades grandes (ou até das pequenas mesmo), você já olhou para o céu hoje? Já escutou o silêncio e parou para refletir? E o segundo é engraçado de uma forma feminista, só podia ser do Veríssimo. O que acharam das crônicas do dia? Gostam dos textos aqui no blog? Beijos.

3 comentários:

  1. HAUHAUHUAHUAHAU, muito boa essa crônica do Verissimo! Adoro ele, tenho quase todos os seus livros!
    Beijinhos!

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  2. Gostei da primeira crônica, mas me apaixonei pela segunda, do Veríssimo, muito interessante e engraçada na medida certa.

    Beijos, Dry
    http://www.heyohdry.com

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  3. Que bom que gostaram das crônicas, meninas. Milena, também adoro o Veríssimo, ele sabe escrever ótimos textos de forma bem engraçada. Beijos

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Obrigada pelo comentário. Responderei o mais rápido possível.